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domingo, junho 15, 2008

Vazamento de gás em albergue espanhol

Acidente é o maior caso de morte por asfixia em 15 anos na Espanha

Em 5 de fevereiro de 2005, um grupo de cerca de 50 pessoas entre 20 e 50 anos, passava o fim de semana no albergue de San Cristófol para comemorar o aniversário de um deles.
O albergue de San Cristófol, pertencente ao governo do município, fica no meio das montanhas da vila de Todolella, de pouco menos de 140 habitantes, a cerca de 300 km de Madri, no leste do país, próximo de Valência.
Depois do jantar, o baile e a festa, 20 pessoas decidiram pernoitar no albergue. Ao que parece, como não tinha calefação no edifício, quase todos compartilharam um salão grande com camas e instalaram uma estufa de gás (GLP) para aquecer o local. Apenas duas pessoas dormiram em outro local, distante do salão.

Domingo a tragédia
Os corpos das 18 pessoas foram encontrados por um funcionário do próprio albergue, que entrou no quarto para pedir as chaves.

Sobreviventes
Os dois únicos sobreviventes, o anfitrião da festa, Bartolomé Meseguer, e sua mulher, dormiram em outro quarto mais afastado da área em que se produziu o gás.

Causa
A região de Todolella é muito fria nessa época do ano e o aquecimento estava sendo usado. Acredita-se que algum dos antigos aparelhos tivesse um vazamento de gás butano ou produzisse monóxido de carbono, que é altamente tóxico.

Albergue
Com capacidade para 52 pessoas, o albergue é uma edificação do século 15, antigamente era uma pequena igreja, e fica no alto de uma montanha.A região é freqüentada por praticantes do turismo rural.

Testemunha
Segundo declarou Javier Gallart, passava uns dias de descanso numa casa anexa ao albergue de San Cristóbal, e o escapamento de gás pode ter ocorrido durante a manhã de domingo, já que ele mesmo esteve com várias das pessoas às 8.00 horas e não notou nada estranho. "Quando me levantei às oito horas da manhã, ainda estavam em festa. Estive com eles uns vinte minutos. Pouco depois, alguns foram embora em seus carros e outros foram dormir no albergue", disse a testemunha.

Inquérito
Os corpos dos onze homens e sete mulheres estavam no Instituto Anatômico Forense de Castellón, onde fizeram autópsias. O juiz de Primeira Instância e Instrução de Vinaroz autorizou a saída dos corpos do local.

Morte doce
O especialista forense espanhol José Antonio García Andrade explicou que o falecimento por inalação de monóxido de carbono é conhecido como a "morte doce", produz-se sem que os afetados "se dêem conta do perigo" ao cair em "estado de estupor". "Se trata de uma morte muito doce que não dá sensação de aperto nem de asfixia", relatou o especialista, e acrescentou que na maioria dos casos as vítimas não percebem do que está acontecendo e ocorrendo a inalação, provoca paralisia nas pernas "que impede a saída do local para procurar ajuda". A "morte doce" pode ocorrer enquanto as pessoas dormem e, portanto, morrem sem acordar.
García Andrade alertou sobre os perigos dos vazamentos em espaços fechados e sem ventilação e, muito especialmente, nos banheiros. Neste sentido explicou que se há uma instalação de calefação à gás no banheiro, a chama que produz a combustão pode apagar-se devido ao vapor d'água, mas o gás segue saindo.

Histórico
Trata-se do mais grave acidente desse tipo ocorrido na Espanha nos últimos 15 anos. No dia 7 de janeiro foram encontrados mortos três membros de uma mesma família de Madri. A causa das mortes foi à inalação de monóxido de carbono.

Fonte: El Mundo - Lunes, 7 de febrero de 2005
Comentário:
Monóxido de Carbono - CO
Sinônimos: Óxido de carbono, Óxido carbônico, Gás de chaminé.
Aspecto:
Gás incolor, inodoro, sem sabor, não irritante, mais leve que o ar.

Principais fontes de produção:
O gás resulta da combustão incompleta de matéria orgânica e combustíveis orgânicos.
Na natureza, o gás é produzido pela oxidação de vegetais, oxidação do metano na atmosfera, incêndios, queimadas, etc. Também é produzido por microrganismos nos oceanos. A concentração média de CO, na atmosfera, é de 0,1 ppm, sendo que 90 % do CO atmosférico é produzido pela própria natureza e 10 % pela atividade do homem.
O monóxido de carbono, resultante da atividade do homem, provem de fornos, motores à explosão (gasolina, diesel, etc.), refinarias de petróleo, "flares" (queima de gases naturais), etc.

Exposição a seres humanos
É um gás incolor e inodoro que resulta da queima incompleta de combustíveis. Os efeitos da exposição de seres humanos ao monóxido de carbono estão associados à capacidade de transporte de oxigênio no sangue. O monóxido de carbono compete com o oxigênio na combinação com a hemoglobina no sangue, uma vez que sua afinidade com este gás poluente é 210 vezes maior do que com o oxigênio. Quando uma molécula de hemoglobina recebe uma molécula de monóxido de carbono forma-se a carboxihemoglobina, que diminui a capacidade do sangue de transportar oxigênio.

A periculosidade do CO resulta da estabilidade do complexo, CO + hemoglobina (carboxihemoglobina), de modo que o mecanismo de troca fica prejudicado: a hemoglobina não se consegue livrar do CO, não pode trocá-lo por O2 e, conseqüentemente, oxigenar o organismo. É por isso que o CO é um asfixiante sistêmico.

Se 20% a 30% da hemoglobina ficarem saturados com CO, aparecem os sintomas e sinais de hipóxia (falta de oxigenação do organismo); acima de 60% de saturação, ocorrem perda da consciência e morte.

A hipóxia é um fenômeno biológico complexo e suas manifestações clínicas são complicadas. Todos os órgãos necessitam de O2, no entanto alguns em maior quantidade do que outros. Assim, o sistema nervoso central é o maior consumidor desse gás e é muito sensível à sua falta. Portanto, confusão mental, inconsciência e parada das funções cerebrais caracterizam as intoxicações graves pelo CO.

A tabela mostra os efeitos da intoxicação aguda:




Fonte: American Petroleum Institute, Prof. Dr. György Miklós Böhm - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Departamento de Patologia

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posted by ACCA@3:38 PM