Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

sexta-feira, março 09, 2012

Acidente na montagem de cabo de fibra óptica OPGW

DESCRIÇÃO DO ACIDENTE
Às 11 horas do dia 27 de Fevereiro de 2.010, o trabalhador JCAS, juntamente com seu companheiro de equipe JNF iniciaram os trabalhos com finalidade de substituir o cabo de pára-raios de fibra óptica de 12,4 mm no trecho entre as estruturas nos 260 e 262.

Pela programação de trabalho pré-definida da equipe, os trabalhos iniciaram com a escalada da estrutura nº 262 pelos dois trabalhadores, ficando os demais da equipe no solo.
Nesta atividade é comum entre os trabalhadores a alternância na saída nos cabos, e foi decidido quem sairia no cabo para realizar a atividade era JCAS e o outro colega permaneceria na torre para auxiliá-lo na ancoragem do guincho manual e demais atividades.

Às 11 horas e 15 minutos os profissionais iniciaram especificamente a realização da atividade de substituição do cabo.

Foto – Início das atividades.

Inicia-se a atividade instalando em uma das extremidades do cabo de aço tirante o esticador de aperto radial de 12,4 mm (conhecido como morcete) e na outra extremidade instala-se o guincho manual de corrente com capacidade para 3 t, o esticador é fixado no cabo a ser substituído a uma distância de aproximadamente 60 m da estrutura e o guincho é ancorado na mísula (suporte) do pára-raio. Outro trabalhador que estava na estrutura, tensionou o guincho e verificou os procedimentos de segurança. Após esse procedimento o encarregado da equipe ordenou JCAS cortar o cabo de fibra óptica, este posicionado a 1 m a frente do esticador sentado no carro guia e secciona o cabo a mais ou menos 80 cm a frente do esticador.


Foto – Instalação do esticador e preparação para o corte do cabo de fibra óptica.

Após o corte do cabo os trabalhos transcorriam normalmente, porém ao iniciar o procedimento de retorno a estrutura JCAS percebeu que o talabarte de seu cinto de segurança ficou preso atrás do esticador, e ao retornar ao cabo para desprender o talabarte, neste momento surgiu um problema: o cabo de fibra óptica que estava na posição final de catenária havia armazenado uma grande quantidade de energia mecânica de torção durante os processos de lançamento e fixação nas estruturas. Com o contato do corpo do trabalhador (tórax ) com ponta do cabo, este liberou toda a energia de torção que estava acumulada, vindo esta ponta girar sobre seu próprio eixo com grande velocidade enroscando-se no vestuário, na alça da bolsa de couro e também na alça de seu cinto de segurança, iniciando um processo de sufocamento.

Imediatamente JCAS pediu ajuda ao colega que se encontrava na estrutura aguardando seu retorno, este rapidamente se deslocou percorrendo 60 m de cabo que os separavam. Chegando ao local, o acidentado pediu ao colega que pegasse o canivete que se encontrava na bolsa de couro para cortar o vestuário que o prendia.


Foto A – O trabalhador tentando se desprender do cabo.
Foto B – O colega que estava na estrutura auxiliando no resgate do acidentado
Foto C -  Outro colega que estava no solo auxiliando no resgate do acidentado.

DIFICULDADE DE RESGATE DEVIDO A ALTURA
O encarregado da equipe que se encontrava no solo percebendo a gravidade da situação ordenou que outro trabalhador CA imediatamente escalasse a estrutura para ajudá-los. Chegando ao local,  devido às circunstâncias, (cabo a 35 m do solo) com ausência de apoio para os pés, cansaço físico, o resgate tornou-se extremamente difícil, não sendo possível libertá-lo. Foi constatado que o trabalhador não estava mais reagindo e se encontrava em óbito. A tentativa de resgate durou 12 min.

Só foi possível fazer o resgate do acidentado minutos depois, utilizando outros procedimentos, com os grampos de fixação do cabo de fibra óptica teve de ser retirado das estruturas para o rebaixamento do cabo até o solo, quando foi possível desprendê-lo do cabo e assim entender com maiores detalhes o que realmente aconteceu.

Outros procedimentos de resgate e remoção de acidentados também foram acionados com a vinda da ambulância.

FATOS E EVIDÊNCIAS

Foto – Trabalhador equipado com EPI´s para desenvolver a função de montador de linha de
transmissão II.

1. Todos os exames indicados no PCMSO – Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional para a função de montador de linha de transmissão II emitido em 13 de Abril de 2.009, concluíram que o trabalhador estava apto para desenvolver essa função;
2. O profissional participou da APT – Análise de Prevenção de Tarefa elaborada no dia do acidente;
3. A ficha de EPI – Equipamentos de Proteção Individual consta a retirada de todos os EPI´s necessários para o desempenho da função;
4. O profissional acidentado estava utilizando todos os EPI´s necessários para o desempenho da função;
5. Há registro de medição de pressão arterial do trabalhador;
6. Há evidência de treinamento de trabalho em altura do acidentado com carga horária de 2 horas, emitido no dia 20 de Janeiro de 2.010;
7. Evidência de integração admissional com carga horária de 6 horas no dia 04 de Maio de 2.009;
8. EPI´s utilizados pelos profissionais da função de montador de linha de transmissão II;
■Capacete: CA 13226;
■Botina: CA 14721;
Cinto de segurança: CA 16592 – NR 18, item 18.23.3 diz que o cinto de segurança tipo pára-quedista deve ser utilizado em atividades com mais de 2,00m de do solo, nas quais haja risco de queda do trabalhador;
■Luva de vaqueta: CA 19856;
■Óculos de proteção: CA 6136;
■Talabarte em Y 110 mm: CA 11653.

FERRAMENTAS NECESSÁRIAS PARA REALIZAÇÃO DA ATIVIDADE
■Carro guia para 1 cabo (bicicleta)
■Tesoura hidráulica para corte de cabos
■Guincho manual de corrente com capacidade de 3 t
■Esticador de aperto radial de 12,4 mm
■Cabo de aço polido AF (alma de fibra) de ½” x 70m com laços nas extremidades
■Corda de serviço
■Carretilha de serviço
■Chaves diversas

AVALIAÇÃO PRELIMINAR
O profissional estava desenvolvendo trabalhos em altura na função de montador de linha de transmissão II, para a qual estava apto, capacitado e treinado conforme mostram os registros de treinamentos.

Todos os procedimentos de segurança como Integração Admissional, Treinamentos de Seguranças, DDE – Diálogo Diário de Excelência, APT – Análise de Prevenção de Tarefas e
IT – Instruções de Trabalho pertinentes foram ministradas conforme plano de segurança implantado e aprovado no empreendimento.

1-carro guia
2-trabalhador
Depois de descer o OPGW com a corda de serviço, o trabalhador volta até o esticador de aperto radial para soltar o talabarte do cinto de segurança que ficou preso no esticador. No esticador ficou a ponta do cabo cortado que enroscou no vestuário, torcendo-o junto com o cinto de segurança e a alça de sua bolsa.
3-esticador
4-talabarte
5-corda de serviço

CONCLUSÃO DO ACIDENTE
Conclui-se que a ponta do cabo que veio prender-se no vestuário, na alça da bolsa de couro e na alça do cinto de segurança do acidentado deveu-se aparentemente pela dissipação de energia adquirida quando do lançamento e fixação do cabo nas estruturas, esta energia deveria dissipar no momento do corte do cabo, o que não ocorreu. É inédito esse tipo de acidente, cujo evento ainda não havia sido registrado neste tipo de atividade em construção de linha de transmissão.

RECOMENDAÇÕES
Diante do relatório apresentado, recomenda-se:
1. Todo profissional montador de linha de transmissão quando for desenvolver a atividade de lançamento, substituição e ancoragem de cabos de qualquer espécie deverá considerar seriamente essa energia como sendo de alto risco, combatendo-a com a utilização de grampos de fixação na ponta do cabo seccionado a fim de inutilizar essa energia;
2. Além dos grampos de fixação na ponta do cabo, colocar contrapesos no esticador, a fim de evitar a dissipação da energia de torção, na hora do corte;
3. O profissional montador, na hora do corte do cabo, deverá permanecer sentado no carro guia (bicicleta), até o momento de retornar a torre;
4. Redobrar as atenções sempre que se aproximar das extremidades dos cabos aéreos, principalmente após serem seccionados;
5. Todo talabarte Y deverá permanecer próximo ao profissional na execução da atividade e jamais do lado oposto do esticador (morcete). De forma que não venha ocorrer o risco de encostar no cabo;
6. Realizar as investigações e estudos necessários para a identificação das causas do acidente e tratá-las adequadamente;
7. Realizar treinamento de resgate em altura a todos os profissionais montadores de LT – Linha de Transmissão.

Comentário:
O relatório da empresa foi muito bem feito.
Num cabo tensionado há duas formas de energia:
O cabo transporta energia nas formas de energia cinética e de energia potencial elástica.
Quando o trabalhador tocou na ponta do cabo, houve dissipação de energia e transferiu para corpo do trabalhador, cujo vestuário se enroscou no cabo e foi torcido
Em lançamento de cabos geralmente utiliza estabilizador ou dispositivo anti-torção para evitar acúmulo de torção de cabos e energia. No relatório não menciona esse dispositivo.
A fixação do talabarte conforme foto ficou atrás dele. É recomendável a fixação do talabarte na frente, para que o trabalhador possa deslocar com maior segurança, sempre visualizando-o e evitando que ele possa ficar preso ou enganchado em alguma saliência
Como recomendação do próprio relatório, realizar treinamento de resgate em altura a todos os trabalhadores montadores de LT – Linha de Transmissão.

Marcadores:

posted by ACCA@5:59 AM