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segunda-feira, julho 31, 2017

Protetores Auditivos: vida útil e benefícios

Qual é a vida útil de um protetor auditivo? Essa pergunta vem sendo colocada com frequência  nos últimos dois anos, não só pelos responsáveis pelo Programa de Conservação da Audição e usuários, como também por advogados e juízes sem ter uma resposta convincente.

O Prof. Samir Gerges esteve em Berlim-Alemanha, representando o Brasil na reunião do grupo de trabalho WG17 da ISO sobre os protetores auditivos. Aproveitou a presença de 15 participantes de todo o mundo e fez essa pergunta para eles. Infelizmente não obteve resposta.

Será que existe um período da vida útil do protetor auditivo para todas as marcas e modelos e para todos os usuários? Podemos fazer uma pergunta similar: qual é a vida útil de seu sapato?

Pode-se fazer uma analogia com a seguinte história para tentar entender a questão. Por exemplo: João tem pé torto e anda depressa, batendo os sapatos com força nas pedras e, quando volta para casa, tira-os e joga-os, sujos e molhados, num canto. Mas nosso elegante amigo, Batista, anda corretamente com os pés retos e cuida de sua postura, mantendo os sapatos sempre limpos e bem guardados. O Batista é pão-duro, não quer gastar em sapatos novos, então engraxa os que já têm todas as noites, e até deixa de acelerar o carro, não brecar e gastar a pastilha de freio.

Os sapatos de Batista duram anos, enquanto os de João só duram seis meses. Agora apliquemos esse exemplo a nosso assunto. Um trabalhador que cuida de seu protetor auditivo, lavando-o (se for do tipo pluge), trocando a almofadas (se for do tipo concha) e guardando-o em lugar limpo, terá um protetor cuja vida útil será muito mais longa do que seria sem esses cuidados, como por exemplo: deixar o protetor auditivo cair no chão sujo sem lavá-lo depois e guardá-lo em lugar úmido e sujo. Será que temos a resposta à pergunta

Qual é a Vida Útil do Protetor Auditivo? 
NÃO TEMOS, porque não existe. Mas temos algumas pesquisas e trabalhos muito limitados em estatísticas e feitos por pessoas que utilizaram poucos tipos de protetores auditivos.
Então, temos apenas alguma idéia do período de tempo de uso do protetor. Assim, quando afirmamos que um par de sapatos pode durar um período que varia de 6 meses a 2 anos, podemos dizer que um protetor tipo concha pode durar de 6 meses a 3 anos, o tipo plugue de
espuma expandida com superfície selada (não permite a penetração de líquidos) pode durar até 15 dias. Um plugue de espuma expandida, descartável, com superfície porosa pode durar apenas um ou dois dias, e o plugue de silicone ou borracha pode ser utilizado de um mês a dois anos.

São períodos nos quais se deve considerar que as características que o protetor auditivo pode perder até 3 dB de sua atenuação original (quando era novo). É recomendado que o trabalhador leve seu protetor quando vai fazer testes audiométricos periódicos (a cada 6 meses ou um ano) e mostrar para o(a) fonoaudiólogo(a) como ele usa e coloca o protetor auditivo. Além disso, é interessante que sejam ministradas aulas particulares sobre a colocação, o uso e a manutenção do protetor nesse momento.

Além disso, o fonoaudiólogo(a) pode ajudar na decisão de trocar ou não o protetor auditivo ou até mesmo só trocar a almofada (caso seja do tipo concha). Agora podemos fazer mais levantamentos e pesquisas em uma determinada empresa em um ambiente específico, utilizando certas marcas e modelos de protetores auditivos, com uma população de trabalhadores específicos para determinar o período de troca dos protetores auditivos.

1. PROBLEMAS DE UTILIZAÇÃO DOS PROTETORES AUDITIVOS
Na maioria das situações industriais, conforto e durabilidade são fatores mais importantes do que um ganho de poucos decibéis de atenuação, considerando‑se que a atenuação alcançada já é razoável. Os projetos e instruções de uso de protetores auditivos devem considerar os seguintes fatores:

1.1. HIGIENE
A maioria dos problemas de higiene está associada ao uso dos tampões que podem provocar infecções ou doenças no ouvido. Tampões devem ser sempre guardados limpos e devem ser colocados com as mãos limpas, livres de produtos químicos, óleo, graxa, etc. Os tampões do tipo pré-moldado, incluindo seu estojo de transporte e guarda, devem ser limpos no mínimo uma vez por semana. Para realizar essa limpeza, fervem-se por quinze minutos em água o estojo e os tampões. Em determinados ambientes de trabalho, os protetores auditivos do tipo concha podem causar certa transpiração no usuário que pode ser reduzida com a utilização de materiais do tipo gaze cirúrgica ou similar entre as conchas e a cabeça. Os protetores auditivos do tipo concha raramente causam infecções no ouvido e representam uma boa alternativa quando isso ocorre com os tampões.

1.2 DESCONFORTO
O desconforto surge como decorrência da firmeza com que os protetores devem ser colocados. Afinal, o protetor auditivo é, na realidade, um elemento estranho ao corpo, mas com o tempo, as pessoas acostumam-se a usá-los. Os tampões de espuma expandida são menos desconfortáveis.
Os protetores auditivos do tipo concha e os tampões moldados são razoavelmente confortáveis, embora as alças de fixação causem um certo desconforto.

1.3 EFEITOS NA COMUNICAÇÃO VERBAL
Em ambientes com níveis de ruído em torno de 95 dB(A), em faixas de frequências distintas da faixa da fala humana, as atenuações dos protetores auditivos não devem interferir com a inteligibilidade da comunicação, quando a voz for mantida razoavelmente alta – na realidade, podem até melhorá-la. A implantação do uso regular de protetores auditivos deve ser precedida por um treinamento dos usuários quanto às dificuldades originadas do seu uso.
Na prática, o usuário se adapta à nova situação e usa os movimentos dos lábios, das mãos e/ou do rosto como complementos da comunicação.

1.4. EFEITO NA LOCALIZAÇÃO DIRECIONAL
É evidente que pessoas que estejam utilizando o protetor auditivo do tipo concha percam, um pouco, o senso de localização das fontes de ruído. No caso dos tampões de ouvido, por não cobrirem todo o ouvido externo, o efeito é menor, sendo que o senso de localização ocorre no cérebro por processo de correlação cruzada. Se o senso de localização for importante para a segurança, deverá ser referido o uso de tampões.

1.5 SINAIS DE ALARME
Nas áreas onde os trabalhadores utilizam protetores auditivos é necessário que os sinais de alarme sejam modificados de maneira a permitir que as pessoas sejam adequadamente alertadas nos casos de risco. Sinalização luminosa e colorida pode ser usada em conjunto com a sinalização auditiva, especialmente para trabalhadores com alta perda de audição.

1.6. SEGURANÇA
Todos os protetores auditivos devem ser projetados de modo a minimizar os possíveis riscos de lesões a seus usuários. Portanto, não devem possuir componentes pontiagudos ou serem fabricados com material granulado que pode se desprender e contaminar o ouvido. Quando protetores auditivos do tipo concha e capacetes forem utilizados conjuntamente, ambos devem ser construídos de modo que cada um atenda a seu objetivo sem que haja interferência de um sobre o outro.
Uma das vantagens dos protetores auditivo do tipo concha em relação aos tampões é a facilidade na fiscalização de seu uso, pois as conchas coloridas são facilmente visualizadas a longa distância.

1.7 EFEITO DA PERCENTAGEM DO TEMPO DE USO
O uso constante do protetor auditivo durante toda a jornada de trabalho é muito importante. A Figura 1 mostra a atenuação real fornecida por protetores auditivos em função da porcentagem do tempo de uso. Por exemplo, imagine que um trabalhador use um protetor auditivo que fornece 25 dB(A) de atenuação. Se esse protetor for usado em somente 95% do tempo, apresentará atenuação de 20 dB(A). Agora se for usado em somente 50% do tempo, apresentará um atenuação de apenas 3 dB(A), conforme ilustra a Figura 1.


2 SELEÇÃO, USO, CUIDADOS E MANUTENÇÃO
Uma vez que existem muitos tipos diferentes de protetores auditivos que podem ser usados em diversos ambientes de trabalho, é desejável que se escolha o protetor auditivo mais adequado a cada caso. Essa seleção deve levar em consideração fatores como:
Certificado de aprovação do protetor auditivo.
Atenuação necessária de ruído do ambiente.
Conforto do protetor auditivo para o usuário.
Ambiente e atividade de trabalho.
Distúrbios médicos.
Compatibilidade com outros EPIs, tais como: capacetes, óculos, etc.
Existem cerca de 2.000 tipos, modelos e marcas de protetores auditivos em nível internacional. Assim torna‑se difícil escolher o protetor auditivo adequado. Conforto e aceitação do usuário devem ser considerados como os parâmetros mais importantes para a seleção do protetor auditivo. Essa seleção deve ser feita envolvendo o usuário.
Uma forma prática é selecionar vários tipos de protetores e fornecê-los aos usuários para que experimentem e escolham o tipo a que melhor se adaptam.

3 CERTIFICADO DE APROVAÇÃO
Devem ser selecionados apenas protetores auditivos com Certificado de Aprovação do Ministério do Trabalho e Emprego em conformidade com a NR-6.

ATENUAÇÃO NECESSÁRIA DE RUÍDO DO AMBIENTE
É desejável que o protetor auditivo reduza o nível de ruído acústico a valores abaixo do nível de ação; entretanto, deve-se também evitar o isolamento do usuário pela dificuldade em perceber sons. Cuidados devem ser tomados para que não se selecionem protetores auditivos que forneçam atenuação mais alta que a necessária. Tais protetores podem causar dificuldades na comunicação ou serem menos confortáveis do que protetores auditivos com atenuação adequada e, conseqüentemente, os usuários tenderão a usá-los por menos tempo.

AMBIENTE DE TRABALHO E ATIVIDADE

1 - Alta temperatura e umidade
Trabalho físico, especialmente em ambientes com altas temperaturas e/ou umidade, pode causar sudorese severa e desconforto quando do uso de protetores tipo concha. Nesses casos, os protetores tipo inserção são preferidos. Se forem usados protetores tipo concha, devem ser usadas finas coberturas de absorventes.
Como não é possível julgar subjetivamente a alteração na atenuação que pode ser causada pelo uso de coberturas sobre as almofadas, devem-se procurar produtos que possuam dados de atenuação para a combinação de concha e cobertura.

2 - Poeira
Quando se trabalha em ambientes com poeiras, uma camada de sujeira pode se acumular entre as almofadas e a pele o que pode, eventualmente, causar irritação da pele. Nesses casos, deve‑se dar preferência aos protetores de inserção descartáveis ou de conchas com coberturas.

3 - Exposição repetitiva por curtos períodos de tempo
Deve ser dada preferência a protetores tipo concha e protetores tipo capa de canal em casos de exposição repetitiva por curtos períodos de tempo, porque a colocação e a remoção são rápidas e fáceis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No custo da implantação de protetores auditivos, como solução para conservação da audição, devem ser incluídos os seguintes parâmetros:
1 - Custo dos protetores.
2 - Custo de manutenção ou reposição dos protetores.
3 - Custos administrativos (pedidos de compra, exames audiométricos, etc).
4 - Custo de conscientização e educação (filmes, palestras, treinamentos, etc).  Quando se faz um levantamento desses custos para um determinado período (por exemplo, dois anos), o montante deverá ser comparado com o investimento para a implantação de outros tipos de soluções para a redução do ruído.

O controle individual da exposição ao ruído pelo uso de protetores auditivos implica uma série de vantagens e de desvantagens, conforme o caso. Quando se planeja um programa de implantação de proteção individual, o usuário deve aparecer em primeiro lugar. É claro que não adianta implantar um programa de utilização de protetores auditivos quando os trabalhadores dão preferência aos rendimentos extras por insalubridade.

Uma campanha de conscientização deve ser feita em todos os níveis hierárquicos da empresa, com palestras, filmes, estudo de casos, demonstrações práticas, apresentação de dados de exames audiométricos, etc, antes da execução de qualquer programa de uso de protetores auditivos. A escolha do melhor protetor auditivo no mercado deve ser baseada na aceitação dos usuários em usá-los 100% do tempo da jornada de trabalho, isto é, cada usuário escolhe seu protetor preferido entre os tipos recomendados. Fonte: Revista ABHO / Edição 34 2014 - Samir N. Y. Gerges  Rafael N. C. Gerges e Roberto Alexandre Dias

 

 

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posted by ACCA@2:17 PM